quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Chuva de verão


De todas as coisas que não me fazem sentido, a chuva de verão é sem dúvida uma das mais instigantes situações que essa estação pode me proporcionar (mesmo tendo consciência das possibilidades físico-climáticas). Por que o dia tende a começar com um sol lindo raiando no horizonte, um vento fresco circulando por toda manhã para se certificar de que realmente amanheceu. E aí, no meio da tarde, digo bem, no meio da tarde, um torpor de água desce do céu, como se algum dos deuses que habitam o olimpo tivessem aberto uma torneira para lavar o rosto depois de uma sesta vespertina. E após alguns minutos de chuva torrencial, voltam... O calor, o mormaço como efeito das nuvens cobrindo o sol, e aquela sensação de que... o verão continua.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Respeitem a faixa

Aquela Caetité que foi considerada em outros tempos à (Corte do sertão) caminha a passos largos para o “desenvolvimento”. Sim! Já que suas principais ruas agora trazem marcas que representam à presença efetiva de uma secretaria de trânsito realmente ativa. Todavia essas marcações não tão indeléveis são às claras representações do que é o caótico ir e vir dos meios de transportes nesta pequena cidade.
Num outro dia estávamos eu e um amigo, diante da faixa, a esperar que os carros que vinham em nossa direção passassem, para que pudéssemos atravessar. E para nossa surpresa o veiculo que vinha à frente parou e fez sinal para que atravessássemos. Perplexo, agradeci cheio de contentamento e segui comentando que naquele momento estava me sentindo em uma cidade civilizada. Mas como tudo que é bom em sua maioria dura pouco, eu e meu colega quase morremos atropelados ontem atravessando a faixa de pedestres quando um motorista descia em alta velocidade numa pequena saboneteira verde, que nem deveria estar mais circulando pra segurança da população.
É louvável a preocupação do poder público municipal com a modernização do trânsito da cidade, principalmente no centro, o que não podemos deixar é de nos preocuparmos com dois fatores de suma importância. Primeiro e mais importante: um projeto de conscientização dos motoristas, motociclistas e pedestres associado a uma cobrança de responsabilidades imparcial, sem distinção de cor, sexo, classe social ou grau de parentesco. E em segundo lugar e não menos importante: comprem tintas de melhor qualidade, afinal não temos trinta dias do início das marcações e alguns pontos já se encontram quase invisíveis.
*Créditos da foto Teobaldo Marinho de Souza Neto

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Os Olhos do Coração

O que somos normalmente depende do que tivemos a oportunidade de ver até chegar aqui. Eu realmente acreditava nisso, mas como sustentar essa afirmativa depois de assistir ao filme ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, dirigido pelo brasileiro Fernando Meireles baseado na obra do escritor português José Saramago, único escritor de língua portuguesa a ganhar o Nobel de literatura? Estou revendo meus conceitos.
Pense! Se você descobrisse que irá ficar cego no próximo minuto o que desejaria ver pela ultima vez? E se não tivesse a chance de saber antes, o que iria desejar rever se voltasse a enxergar? O filme nos mostra o quanto somos mesquinhos e ambiciosos mesmo quando todas as situações nos são adversas, quando tudo colabora para que o coração humano se torne livre das mazelas cotidianas que o mundo tem nos imposto como normal. O que temos é o já conhecido roteiro arraigado pelo capitalismo em sua essência, do homem sobrepondo o homem, dos interesses pessoais excluindo o coletivo.
O filme é surpreendente! Mas não simplesmente como uma afirmação da genialidade do escritor português, isso é desnecessário. A obra é sensível em toda sua amplidão. Da música à interpretação de cada ator/atriz, do toque característico do diretor brasileiro, a discreta abordagem do racismo dentro da história. O contexto dos fatos escancara o ser humano em todos os seus defeitos, em todos os seus males, mesmo os mais escondidos, mesmo os mais disfarçados, porém nos mostra que ainda é válido acreditar na bondade e honestidade que carregamos mascarada dentro de cada um de nós.
Como não temos essa oportunidade na vida, ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA nos mostrou que vemos sempre o que queremos ver e normalmente não é o mais importante. Como diria Antoine de Saint Exupéry “só se ver bem com os olhos do coração” (Pequeno Príncipe). A verdadeira cegueira é a que cega a alma.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Os Dias Que Não Fazem Sentido

Talvez você nunca leia uma vírgula do que estou escrevendo agora. E não será nenhuma novidade para mim que tive que conviver com o seu orgulho por um tempo relativamente longo. Quando tentamos compreender um relacionamento, e que este se dá entre humanos, é extremamente natural que tenhamos consciência de que os conflitos fazem parte de todo contexto provedor das relações humanas. São de certa forma, esses conflitos que tornam o “homem” um fazedor de história. Creio que não à toa o homem tem também a capacidade de argumentar sobre todos os seus atos, creio que uma tentativa mais do que justa para tentar mediar possíveis erros, afinal esse é um luxo humano.
Quem somos afinal para julgarmos certo, ou errado, o que nos cerca, Deus? Não! Erramos, e cedo ou tarde, estaremos no lugar de quem agora julgamos, e com caras não menos desconcertadas estaremos nos desculpando, ou aceitando resignados os “fatos” que não compõem nossa realidade. Quando temos a oportunidade de produzir um conceito sobre algo ou alguém, estamos automaticamente criando precedentes para que qualquer outro ser humano se permita produzir qualquer tipo de conceito, ou (pre)conceito, sobre o que somos, ou o que somos aos olhos de quem nos ver naquele momento.
Num mundo em que tudo requer o atestado de funcionalidade para ter respaldo no sistema, somos obrigados a criar utilidades ao que naturalmente só tem como papel a simples possibilidade de criar-nos condições para uma emancipação. Não uma emancipação política, que nos cerca com todos os vícios virulentos tão comuns as classes dirigentes, mas antes, uma emancipação humana, uma tomada de consciência que nos permita ver além do que nos mostra o que achamos real. Afinal de contas, Descartes disse: “penso, logo existo”, no entanto, uma pedra não pensa o que não nos faz dizer que se for atirada contra uma cabeça ela irá desaparecer no caminho, antes de acertar o seu alvo.

*Créditos da foto Teobaldo Marinho de Souza Neto

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Completo Esvaziamento da Dor

Você já teve uma frase como sombra? “Menos ama quem mais fala de amor”. Essa é a frase! Sabe quem disse isso? Shakespeare, e por muito tempo ela fez parte da minha vida, entranhada em meu coração como uma tatuagem sobre a pele. Mas eu descobri que não é assim que funciona, pelo simples fato de que não existe um aparelho capaz de medir a intensidade do amor.
Esse tão contraditório sentimento pode variar de nome, dependendo do idioma. De escrita, pelo mesmo motivo. Varia de pessoa, e pode realmente variar de intensidade, todavia o fascinante é que não existe a possibilidade de constatarmos isso. Sendo assim, cabe aos poetas tanto quanto aos simples mortais se permitirem descobrir o que é intensidade, o que é sentimento e o que é o amar. Para tanto, guardemos nossas interrogações para assuntos que nos possibilitem respostas e quanto ao amor, cabe-nos apenas à prática, então, amemos!

*Créditos da foto Teobaldo Marinho de Souza Neto